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“O nosso chefe é o paciente”, afirmou Fabio Fraga, médico ginecologista e atual diretor-presidente de um dos mais conceituados hospitais de Campinas (SP), o Vera Cruz, na 4ª edição e a 1ª do ano do Leader Connection, que foi realizada no dia 11 de abril de 2022.
Fraga explicou que ter esse entendimento é fundamental na carreira médica. É preciso ter respeito e se importar em como se apresentar ao paciente. Segundo ele, o primeiro erro de interpretação sobre o futuro de um estudante da área da saúde é pensar que depois que se formar e começar a trabalhar é ele mesmo quem vai se sustentar financeiramente.
“Vocês não são o que vocês pensam que são. Vocês são aquilo que as pessoas que vocês atendem têm certeza que vocês são, aquilo que os seus colegas médicos acham que vocês são. O que vocês pensam de si mesmos é o que menos importa”, concluiu.
Sobre o Leader Connection
Essa foi a principal mensagem de Fraga nesse evento promovido pelo Hub Mandic que conecta estudantes de Medicina com grandes líderes do setor da saúde. Em cada edição, um convidado especial compartilha a sua trajetória profissional com um grupo restrito de estudantes da graduação da Faculdade São Leopoldo Mandic que têm interesse e atuam em atividades de gestão e empreendedorismo.
Como é de praxe, a abertura do evento foi realizada pelo Prof. Dr. Thiago Trapé e pelo Prof. Dr. Lorenzo Tomé e, logo em seguida, os estudantes, ou os futuros líderes da saúde, como os chamamos, se apresentaram ao convidado.
Como explicou o Dr. Trapé, o evento tem dois principais objetivos: o primeiro é escutar uma história inspiradora, que ajude os estudantes a imaginar o futuro; e o segundo é que os convidados de cada edição, os atuais líderes da saúde, conheçam os estudantes de Medicina que participam do evento.
“A ideia é escutarmos a história [de cada convidado] de maneira muito livre, aberta, em um espaço reservado, mas também que esses líderes conheçam vocês”, lembrou o Prof. Trapé.
Os ensinamentos da trajetória de um líder da saúde
Ao relatar a sua trajetória profissional, o atual diretor-presidente do Hospital Vera Cruz deixou claro que não existe uma fórmula pronta para alcançar uma posição de liderança na área da saúde. “Se a vocação vai ser gestão, ela vai aparecer”, pontuou. Entretanto, ele deu dicas valiosas para qualquer um que tenha interesse em trilhar o caminho de gestor em saúde.
“Acho que a maioria das pessoas que estão hoje ocupando cargos de líderes não planejaram ser líderes. Planejar já é um ponto positivo, mas muitas vezes isso vai acontecendo”, comentou Fraga, explicando que as experiências vão levando a adquirir competências específicas e a alcançar posições de mais liderança, ao mesmo tempo em que vão dando mais capacidade para o profissional discernir as prioridades para decidir como agir em cada uma das etapas.
“O mundo mostrou que o médico, o profissional da saúde, gere melhor o sistema de saúde”, defendeu. Segundo Fraga, antes de ser um bom gestor na área médica é preciso ser um bom médico e honrar a profissão. Assim, o profissional será respeitado pelos seus pares, pelos pacientes e vai tomar boas decisões.
“Se vocês estão fazendo Medicina pensando em ficar ricos, dançaram”, afirmou o gestor. O respeito com o paciente é primordial, independentemente do perfil social, da natureza humana, da roupa que ele está vestindo, da forma como se relaciona com o outro, se fala certo ou não, insistiu. “Se o cliente vem, o dinheiro é consequência. O sucesso vem depois”, concluiu. Conforme ressaltou Fraga, no que diz respeito à gestão em saúde, é essencial ter absoluta certeza de um cuidado seguro ao paciente.
Ao falar sobre a sua passagem pela gestão de operadoras de planos de saúde e de hospitais, Fraga comentou sobre a lógica do modelo de saúde vigente no País que favorece a ineficiência, uma vez que o hospital recebe pelo tempo que o paciente fica internado e pela quantidade de procedimentos realizados. “A diferença do hospital para a operadora de planos de saúde é que a operadora recebe um pagamento fixo e precisa pagar um custo variável”, explicou, alegando que se trata de um modelo perverso e insustentável.
O problema é que quando o paciente fica muito mais tempo internado, gerando mais dinheiro ao hospital, maiores são os riscos de complicações e até mesmo de ser contaminado por uma infecção hospitalar. Além disso, o leito fica ocupado quando poderia estar sendo usado por alguém que de fato está precisando.
Hoje em dia, muitas empresas fazem gestão do tempo ocioso do médico, como explicou Fraga. “Eu consigo olhar agora, em tempo real, diversos fatores dentro dos hospitais que eu administro, desde o tempo de espera de consulta, se o médico ainda não passou a visita hoje, quanto tempo o paciente está demorando para sair do quarto, quantas pessoas estão na fila do laboratório, até quantas pessoas reinternaram de uma forma não prevista, quantas voltaram”, detalhou.
Para sobreviver como uma operadora de planos de saúde, além de tirar os desperdícios, na medida do possível, e se beneficiar das tecnologias existentes atualmente que acompanham a trajetória do paciente nos serviços de saúde, Fraga sugeriu a seguinte reflexão: “Como o meu negócio pode ser quebrado?” Isso serve para qualquer negócio. Para não quebrar um negócio, a sugestão do diretor-presidente do Vera Cruz é pensar de maneira criativa sobre como ele poderia quebrar.
“Geralmente as grandes transformações, as grandes inovações vêm de alguma coisa que deu errado”, pontuou, comentando o caso de uma paciente chamada Laura que foi a óbito por complicações de septicemia, e que deu nome ao Robô Laura, criado pelo pai da paciente, que usa inteligência artificial para detectar precocemente a infecção hospitalar.
Fraga explicou que o gestor precisa se dedicar e estudar, não apenas por meio do estudo formal, mas o individual, aproveitando-se do que a Internet oferece hoje em dia para saber responder às perguntas do seu dia a dia como líder. “Enquanto empreendedor, a disciplina é a primeira coisa que precisamos ter”, destacou.
Outra sugestão do diretor-presidente do Hospital Vera Cruz é ser inquisitivo. “Seremos melhores quanto mais perguntas certas conseguirmos fazer”, afirmou.
Por fim, Fraga esclareceu que para ser líder você não precisa saber muito de finanças e gestão hospitalar, recursos humanos, tecnologia da informação, mas sim um pouco de cada coisa. É imprescindível estar cercado de boas pessoas, um time unido no qual seja possível o desenvolvimento de processos bem estruturados, e ter uma cultura focada em segurança e eficiência, centrada no paciente.
Sobre o Hub Mandic
O Hub Mandic é a célula de inovação em saúde do Grupo São Leopoldo Mandic, que nasceu para conectar e desenvolver startups da área da saúde junto ao Ecossistema Mandic, fomentando inovação e o empreendedorismo dentro e fora de sua comunidade. Sua equipe é formada por gestores do Grupo São Leopoldo Mandic e da empresa Act!ion, que possui expertise na gestão e captação de investidores para startups.