Estudo orienta cirurgiões-dentistas sobre cuidados especiais para pacientes com microcefalia
Pacientes com microcefalia apresentam diversas disfunções associadas à malformação congênita que precisam ser consideradas pelos cirurgiões-dentistas, durante o tratamento odontológico
O vírus Zika chegou ao Brasil em 2015 e, junto com a epidemia, houve um aumento no número de nascimentos de bebês com microcefalia, especialmente na região Nordeste. Após inúmeras investigações, a causa da microcefalia em fetos e recém-nascidos foi atribuída ao Zika, que passou a ser considerado um problema de saúde pública.
Naquele ano, a cirurgiã-dentista Juliana da Silva Moro, que fazia especialização em odontologia para pacientes especiais, na Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, decidiu fazer um estudo, no Instituto e Centro de Pesquisas da Instituição, sobre a microcefalia causada pelo vírus, para instruir os profissionais de saúde bucal sobre a assistência odontológica necessária para tratar esses pacientes.
“A microcefalia é uma malformação congênita que pode estar associada a diversas alterações relevantes, como problemas de deglutição e respiração, auditivos e oftalmológicos, epilepsia e comprometimento intelectual, que podem influenciar no atendimento odontológico. E, diante do crescente número de infecções causadas pelo vírus Zika e dos novos casos de crianças nascidas com microcefalia, os cirurgiões-dentistas devem estar preparados para tratar esses pacientes”, explica Juliana, que elencou os resultados da sua pesquisa no artigo Microcephaly caused by the Zika vírus: dental care, publicado em abril deste ano na RGO (Revista Gaúcha de Odontologia).
Para fazer a revisão da literatura, Juliana buscou informações sobre microcefalia causada pelo vírus Zika e as características gerais de pacientes com a malformação, nas bases de dados PubMed, Lilacs e Web of Science, e leu relatórios semanais do Ministério da Saúde sobre a epidemia.
O papel do cirurgião-dentista
O estudo recomenda que, na primeira consulta, o cirurgião-dentista faça uma anamnese detalhada, considerando a história médica, as limitações físicas e mentais e a saúde atual do paciente. “Os recém-nascidos com distúrbios neurológicos, como a microcefalia, podem apresentar dificuldades nas habilidades motoras orais e, por isso, o profissional deve instruir os pais sobre aleitamento materno, respiração e deglutição”, enfatiza Juliana.
A anamnese também é importante para saber quais são os medicamentos de uso contínuo ingeridos pelo paciente. A fenitoína, por exemplo, é usada no tratamento e na prevenção de convulsões, e pode causar hiperplasia gengival – aumento do número de células da gengiva -, que dificulta a mastigação e a higiene bucal. “Pode acontecer alguma interação medicamentosa e esses medicamentos podem influenciar na saúde bucal. O profissional precisa mostrar para a família a importância de levar esse paciente para fazer profilaxia no consultório”, ressalta.
Crianças sem sucção, deglutição e coordenação respiratória, como é o caso daquelas que têm microcefalia, apresentam maior risco de engasgo e aspiração durante a amamentação. “É importante sugerir alternativas para os pais, como o uso de copos, xícaras e a técnica sonda-dedo, além de chamar a atenção para a posição do bebê, para que ele não engasgue durante o aleitamento”, explica a cirurgiã-dentista.
Ela esclarece que o comportamento da criança também deve direcionar o tipo de consulta realizada pelo profissional. “É importante perceber se ela é tranquila ou nervosa, e fazer consultas mais curtas e silenciosas para evitar o estresse e a fadiga muscular”. O estudo ainda recomenda que o tratamento seja feito em etapas, sempre que possível. Além disso, o profissional deve buscar uma comunicação clara com a criança e compatível com a sua capacidade de compreender.
A orientadora do trabalho de Juliana e co-autora do artigo, Dr.a Tatiane Marega, professora e coordenadora do curso de Especialização em Pacientes com Necessidades Especiais, da SLMANDIC, explica que, no caso de pacientes pouco colaborativos, é possível utilizar como alternativa medicações que promovem sedação. “Devemos observar as doses que são recomendadas e as possíveis interações medicamentosas, pois esses pacientes tomam algumas medicações de uso contínuo”, ressalta Marega.
Segundo ela, o atendimento do paciente com microcefalia deve, sempre que possível, ser realizado em ambiente ambulatorial, em clínica normal. “O profissional pode utilizar medicações que provocam pequena sedação e aumentam a colaboração do paciente”, afirma a professora.
“Quando não é possível a realização da consulta em ambulatório, o paciente deve ser encaminhado para hospitais onde o tratamento pode ser realizado sob anestesia geral”, complementa Marega.
Microcefalia
A microcefalia é uma malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Em 2016, o Ministério da Saúde do Brasil, definiu que, para ser considerada microcefalia, a medida do perímetro cefálico dos recém-nascidos deve ser igual ou inferior a 31,9 centímetros em meninos e igual ou inferior a 31,5 em meninas.
De acordo com o artigo, é uma condição que pode estar associada a outras disfunções, como rigidez e contratura muscular, irritabilidade, problemas de deglutição, convulsões, anormalidades auditivas e oculares, anomalias cerebrais, disfunção do tronco cerebral e calcificação do córtex cerebral.
Além da mensuração da circunferência da cabeça da criança, são realizados testes adicionais para o diagnóstico correto da microcefalia, como exames neurológicos e de imagem e a observação da postura do recém-nascido, dos movimentos espontâneos, reflexo do choro e reflexos primitivos.
Para os pesquisadores do Instituto e Centro de Pesquisas da Faculdade São Leopoldo Mandic, conhecer as disfunções associadas à microcefalia e os principais problemas orais causados por essa condição, é a melhor forma de direcionar o tratamento odontológico dos pacientes.
O vírus Zika
O artigo ainda relata que o vírus Zika, que pode causar a microcefalia, é geralmente transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e foi isolado, pela primeira vez, em 1947, no soro de um macaco rhesus, na floresta de Zika, em Uganda. Alguns anos depois, o mesmo vírus também foi identificado na Malásia e outros países asiáticos, mas pouca atenção foi dada aos casos que foram considerados esporádicos.
Em 2007, o vírus ganhou a atenção da comunidade científica por causa de um surto de infecção nos Estados Federados da Micronésia, na Oceania. Depois de seis anos, houve nova epidemia na Polinésia Francesa.
Segundo o estudo, no continente americano, o Zika foi confirmado pela primeira vez no Chile, em 2014, e, no ano seguinte, no Brasil, onde 18 estados – a maioria da região Nordeste – relataram pacientes infectados pelos vírus. Desde então, outros países vizinhos apresentaram casos de infecção, evidenciando a disseminação para a América do Sul, América Central e Caribe. Como resultado, a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou situação de Emergência Internacional de Saúde Pública, direcionando todos os esforços e estudos de pesquisa para a epidemia.
Recentemente, um relatório publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde confirmou que a infecção pelo vírus Zika já atingiu 48 territórios das Américas.
O artigo Microcephaly caused by the Zika vírus: dental care (doi: 10.1590/0102-311X00011618), de Juliana da Silva Moro, Tatiane Marega e Fernanda Urbini Romagnolo, pode ser lido em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-86372019000100500&lng=en&tlng=en.
Sobre o Instituto e Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic
O Instituto e Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic, em Campinas, foi constituído em janeiro de 2008, sem fins lucrativos, para realizar pesquisas científicas na área de saúde. Iniciou com pesquisas na área odontológica, expandiu para a área de saúde, além do desenvolvimento de novas tecnologias, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnico-científicos, fomento à capacitação e treinamento de pesquisadores.
Conta com laboratórios de Cultura de Células, Microbiologia, Ensaio de Materiais, Patologia e Imunohistoquímica, Biologia Molecular e Terapia Celular, todos equipados com recursos de última geração. Até dezembro de 2018, foram 981 artigos publicados em revistas científicas indexadas em diferentes bases de dados, como PubMed e Scielo. E o Laboratório de Patologia emitiu, gratuitamente, mais de 24 mil laudos de biópsias provenientes de tecidos da região da cabeça e pescoço, sendo 1.542 de carcinomas e 125 de neoplasias malignas.
Os recursos financeiros do Instituto e Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic necessários às pesquisas são obtidos por meio de parcerias e convênios, financiamentos de órgãos públicos, contribuição de associados e terceiros e recebimento de patentes. Dentre os principais parceiros, destacam-se CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Estudo avalia confiança do brasileiro em vacinas
Pesquisa realizada na Faculdade São Leopoldo Mandic é parte de um projeto global que detecta tendências sobre confiança em vacinas e hesitação em vacinar
Apesar de serem inegáveis os benefícios da imunização, cada vez mais pessoas têm ficado hesitantes com relação às vacinas. Por esse motivo, o ressurgimento de doenças já erradicadas no passado tem sido um problema de saúde pública e motivo de preocupação em todo o mundo. Para avaliar a confiança nas vacinas e a hesitação em vacinar no Brasil, pesquisadores da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, realizaram um estudo em parceria com a London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Foram entrevistadas quase mil pessoas que têm filhos, por meio de um questionário sobre percepção em relação às vacinas e à vacinação. Perguntas exploratórias adicionais foram feitas aos pais de crianças menores de 5 anos. Essas questões geraram informações sobre o comportamento em relação à vacina, opiniões sobre vacinação e serviços públicos de saúde e hesitação em vacinar.
Os resultados da pesquisa foram descritos no artigo “Vacina: Confiança e Hesitação no Brasil”, publicado no periódico Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, e mostraram que ainda há mais confiança na imunização do que nos serviços de planejamento familiar, agentes comunitários de saúde e serviços de emergência.
A taxa geral de hesitação foi de 16,5%, enquanto 81 (23%) dos 352 pais com filhos menores de cinco anos estavam hesitantes em relação à vacinação de seus filhos e 6 foram totalmente recusantes (7,4% dos hesitantes).
Apesar de a confiança geral da vacina ser alta, o estudo mostrou que há uma tendência para que níveis mais baixos de confiança estejam associados a níveis mais altos de hesitação. “Também notamos que houve uma associação importante entre hesitação e recusa vacinal, porque houve mais recusa em pais hesitantes do que em pais que não hesitaram em vacinar. Podemos concluir que a hesitação é um fator de risco importante para a recusa e que precisa ser monitorado e investigado periodicamente”, afirma Marcelo Sperandio, professor e pesquisador da Faculdade São Leopoldo Mandic e um dos autores do artigo.
No Brasil, o estudo identificou que há um risco maior de hesitação em pessoas com índices socioeconômicos mais baixos. Porém, o que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi que mesmo pessoas com índices socioeconômicos mais altos também podem hesitar e se recusar a vacinar os filhos. “Ficamos intrigados com isso, pois imaginávamos que pessoas com mais acesso a informações sobre a importância e eficácia das vacinas fossem completamente a favor delas, sem hesitação alguma”, comenta Sperandio.
“Vacinas desnecessárias”
A maior porcentagem de motivos de hesitação foi atribuída a questões de confiança: 41,4% e 25,5% não acreditam que as vacinas sejam seguras ou eficazes, respectivamente. A hesitação devido a preocupações com eventos adversos representou 23,6%.
Dentre os motivos de hesitação e recusa, houve uma parcela importante dos entrevistados que julgaram as vacinas como desnecessárias. “Esse foi um dado interessante porque foi maior no Brasil do que nos outros países em que esse índice foi avaliado. O ‘desnecessário’ foi algo peculiar da nossa população. Agora resta saber por que essas pessoas acham isso”, enfatiza o professor.
“Esse tipo de estudo é importantíssimo para o monitoramento dessa tendência de hesitação, porque a hesitação leva à recusa. Precisamos monitorar a hesitação para poder intervir antes de termos uma bola de neve de recusas que pode causar problemas para todo mundo. Se a pessoa não se vacina, ela traz a doença de novo para a comunidade e outras pessoas acabam contraindo a doença”, avalia Sperandio, lembrando que o Brasil perdeu, em 2018, a certificação de país livre de sarampo, conferida pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), após registro de surtos de disseminação do vírus.
Vaccine Confidence Project (VCP)
No Brasil, o estudo realizado pelos pesquisadores da São Leopoldo Mandic, e coordenado pelo Dr. Marcelo Henrique Napimoga, diretor de pós-graduação, pesquisa e extensão da Instituição, é o primeiro que se dedica formalmente a avaliar o estado de confiança da população nas vacinas. E é parte de um projeto mais amplo, que mapeia a confiança em vacinas globalmente, o Vaccine Confidence Project (VCP).
O VCP foi criado em 2009 para entender, monitorar e responder a questões sobre confiança em vacinas e programas de imunização em todo o mundo. O projeto detecta sinais e identifica tendências de recusa vacinal que, se forem detectadas em estágio inicial, podem ser enfrentadas e modificadas.
Napimoga explica que o VCP criou um questionário – utilizado na pesquisa no Brasil e que também é aplicado em vários países -, que mede variáveis dinâmicas sobre confiança em vacinas, como é o caso da hesitação. Ele ressalta que trabalhos anteriores mostravam apenas a recusa em vacinar, sem necessariamente fazer associações com a hesitação.
“Já o VCP mede o risco de recusa a vacinas que está diretamente relacionado à hesitação, ou seja, medindo hesitação você consegue ter uma ideia prévia do risco de a pessoa se negar a vacinar as crianças. É importante medir a taxa de hesitação porque é um dado dinâmico, que varia de acordo com diversos fatores, que podem ser políticos, sociais, econômicos, demográficos e religiosos”, argumenta Napimoga.
Variável dinâmica
Sperandio lembra que a coleta de dados para o estudo no Brasil foi feita em 2016, quando houve uma grande epidemia de dengue e foram confirmadas as suspeitas de que o surto de Zika Vírus era responsável pelos inúmeros casos de microcefalia. Naquele mesmo ano, a crise política havia culminado no impeachment da ex-presidente Dilma Roussef.
Para o professor, essas questões políticas e de saúde pública podem ter sido a causa da falta de confiança da população nas vacinas naquele momento. “Os níveis de hesitação podem diminuir, por exemplo, conforme o momento político se torna mais estável.”
No entanto, para que essa hipótese se confirme, é preciso que a confiança, hesitação e recusa sejam medidas periodicamente. “Este foi o primeiro estudo realizado no Brasil e que deve abrir espaço para que outros estudos sejam feitos. A ideia é que a mesma forma de avaliação seja usada em outros momentos, para que se saiba como essas tendências variam ao longo do tempo e por quais razões”, ressalta Sperandio.
Tendência mundial
Os dados coletados no Brasil foram semelhantes aos dados encontrados em outros países, com algumas diferenças pontuais em relação à confiança em outros serviços públicos de saúde, seguindo, portanto, uma tendência mundial de hesitação vacinal.
“A disseminação de informações inverídicas sobre as vacinas tem auxiliado a aumentar a hesitação vacinal em todo o mundo, o que tem feito ressurgir doenças que já haviam sido erradicadas”, avalia o professor da Faculdade São Leopoldo Mandic.
Em 1998, uma pesquisa, realizada no Reino Unido e publicada na conceituada revista Lancet, mostrou a possibilidade de um vínculo causal entre o autismo e a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. O que era apenas uma hipótese, foi o suficiente para que os índices de vacinação contra essas doenças caíssem no Reino Unido e em diversos países ao redor do mundo.
“Esses fatos históricos têm um impacto direto nos níveis de hesitação. Quando se detecta um nível maior de hesitação, é a hora ideal para que os governos tomem medidas locais para evitar índices maiores de recusa, agindo diretamente nas causas”, conclui Sperandio.
O artigo Vaccine confidence and hesitancy in Brazil (doi: 10.1590/0102-311X00011618), de Amy Louise Brown, Marcelo Sperandio, Cecília P. Turssi, Rodrigo M. A. leite, Victor Ferro Berton, Regina M. Succi, Heidi Larson e Marcelo Henrique Napimoga, está publicado em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2018000905014&lng=en&tlng=en.
Extrato de leguminosa pode ajudar a reduzir a inflamação na articulação temporomandibular
Pesquisa desenvolvida na Faculdade São Leopoldo Mandic conclui que a lectina extraída da leguminosa Dioclea violacea pode atuar como agente anti-inflamatório em distúrbios da ATM
A inflamação dos tecidos da Articulação Temporomandibular (ATM) causa condições dolorosas na região orofacial e pode evoluir para um quadro de dor crônica. Um estudo desenvolvido na Faculdade São Leopoldo Mandic, em parceria com a Universidade Federal do Ceará, investigou a ação anti-inflamatória da lectina extraída da Dioclea violacea – leguminosa popularmente conhecida como olho-de-boi e encontrada em todo o litoral brasileiro – e constatou que ela pode ser eficaz para tratar inflamações na ATM.
A pesquisadora e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Clínicas Odontológicas da SLMANDIC, Prof.a Dr.a Juliana Trindade Clemente Napimoga, explica que “as lectinas diminuem a quimiotaxia inflamatória por meio da redução da migração de células inflamatórias para o local da lesão, e por isto apresentam um potencial efeito anti-inflamatório”.
A pesquisa contou com o apoio da CAPES/CNPq e a participação de pesquisadores da Unicamp, Universidade de Uberaba, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e da Universidade Federal do Ceará, e foi publicada em março deste ano na revista Biochimie. O artigo é resultado da dissertação de mestrado da aluna Maria Amelia Silva, da São Leopoldo Mandic.
Fitoterápicos e medicamentos mais eficazes
A pesquisa pode colaborar para a descoberta de medicamentos mais eficazes, utilizando a biodiversidade encontrada no Brasil, e reforça que os fitoterápicos são medicamentos com efeitos terapêuticos e também colaterais e não devem ser prescritos de maneira irresponsável.
As lectinas podem ser extraídas tanto de leguminosas como de algas e usadas para a fabricação de fitoterápicos. “Ao invés de trabalhar com produtos sintéticos, muitas vezes conseguimos, a partir de plantas específicas, extratos químicos com potencial efeito terapêutico”, afirma a pesquisadora.
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são os medicamentos mais prescritos para tratamento de Disfunção Temporomandibular (DTM). No entanto, o tratamento pode levar várias semanas e causar inúmeros efeitos colaterais.
Além disso, apenas 30% dos pacientes com condições de dor inflamatória respondem aos seus efeitos. Por isso, o desenvolvimento de novos fármacos para tratar doenças inflamatórias dos tecidos orofaciais continua sendo importante para os cientistas.
Software
Os dados laboratoriais da pesquisa foram associados a alguns ensaios feitos em um software que simula com quais estruturas a lectina pode ter afinidade de ligação.
A pesquisadora ressalta que o uso do software dá mais robustez ao trabalho, já que por meio dele é possível fazer uma predição do que se pode esperar de mecanismo de ação da lectina, o que norteia o desenho experimental do modelo in vivo.
“Essa é uma ferramenta importante, porque otimiza a pesquisa e conseguimos focar nos procedimentos que são mais efetivos, o que acaba reduzindo a quantidade de animais experimentais utilizados e também a quantidade de experimentos”, explica Dr.a Juliana.
O artigo Dioclea violacea lectin ameliorates inflammation in the temporomandibular joint of rats by suppressing intercellular adhesion molecule-1 expression (doi: 10.1016 / j.biochi.2018.12.007), de Juliana T. Clemente Napimoga, Maria A. S. M. Silva, Sylvia N. C. Peres, Alexandre H. P. Lopes, Claudia F. Lossio, Messias V. Oliveira, Vinicius J. S. Osterne, Kyria S. Nascimento, Henrique B. Abdalla, Juliana M. Teixeira, Benildo S. Cavada e Marcelo H. Napimoga, está publicado em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0300908418303523?via%3Dihub.
Estudo propõe reduzir pela metade a dose de radiação de exames de tomografia computadorizada de feixe cônico
Professora e pesquisadora da Faculdade São Leopoldo Mandic publica artigo na revista Scientific Reports, do grupo Nature, sobre um estudo que comprova que crianças e adolescentes podem ser expostos a menores doses de radiação em exames odontológicos
Um estudo identificou que é possível reduzir pela metade a dose de radiação em exames de tomografia computadorizada de feixe cônico, indicados para crianças e adolescentes, sem afetar a qualidade das imagens.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature. O artigo científico foi escrito pela pesquisadora e professora da Faculdade São Leopoldo Mandic, Anne Caroline Oenning, em parceria com pesquisadores de universidades da França, Bélgica e Romênia que integram o DIMITRA, um projeto que investiga o risco de radiação associado aos exames de tomografia computadorizada odontológica em crianças e adolescentes, e propõe estratégias para a redução da dose nessa população.
Desde o final da década de 1990, os exames de tomografia computadorizada de feixe cônico, que são exames tridimensionais, passaram a ser muito usados na Odontologia.
Esses exames estão associados a doses maiores de radiação, quando comparados aos bidimensionais – como a radiografia panorâmica -, e sua utilização é justificada pela possibilidade de realização de diagnósticos mais precisos sem distorções ou ampliações.
Radiossensibilidade
Prof.a Anne explica que crianças e adolescentes são mais sensíveis à radiação do que os adultos, por causa da imaturidade dos órgãos e tecidos que estão em pleno desenvolvimento.
“Eles estão no início da vida e ainda podem ser expostos à radiação de muitos exames, o que tem efeito cumulativo no organismo e pode dar origem ao câncer”, complementa a pesquisadora.
Ela afirma que, em muitas situações, esse exame tridimensional não é necessário, pois é possível fazer o diagnóstico, perfeitamente, com o bidimensional, que tem uma dose de radiação inferior.
“O cirurgião-dentista precisa ter critério para solicitar esses exames de tomografia que, muitas vezes, expõem sem necessidade a criança à radiação”, pondera Prof.a Anne.
Parâmetros de exposição
Um dos pontos mais importantes que o artigo sinaliza é a possibilidade de obtenção de imagens com qualidade suficiente para o diagnóstico, reduzindo-se os parâmetros de exposição (voltagem, corrente e tempo de exposição) estabelecidos pelos fabricantes de tomógrafos.
“Normalmente, os fabricantes desses equipamentos sugerem protocolos padrão, com fatores ajustados em níveis relativamente mais elevados com o objetivo de produzir imagens de maior qualidade, mais bonitas”, afirma Prof.a Anne.
No entanto, o estudo mostra que a redução da dose de radiação não interfere na obtenção de imagens com qualidade e aceitáveis para o diagnóstico. “Nem sempre as imagens mais bonitas são as imagens associadas a um melhor desempenho no diagnóstico”, enfatiza a pesquisadora.
Artigo na Scientific Reports – Nature
“Ficamos muito satisfeitos com a publicação do estudo na revista Scientific Reports, do grupo Nature, um periódico com alto fator de impacto, bastante citado, e, além disso, lido e acessado por cientistas de diversas áreas, e não somente da Odontologia, o que contribui positivamente para disseminação do conhecimento”, opina Prof.a Anne, que ressalta que está em análise a possibilidade de novas pesquisas sobre o tema, em parceria com alunos e pesquisadores da SLMANDIC.
O artigo Halve the dose while maintaining image quality in paediatric Cone Beam CT (doi: 10.1038/s41598-019-41949-w), de Anne Caroline Oenning, Ruben Pauwels, Andreas Stratis, Karla De Faria Vasconcelos, Elisabeth Tijskens, Annelore De Grauwe, Reinhilde Jacobs, Benjamin Salmon e Dimitra research group, está publicado em: https://www.nature.com/articles/s41598-019-41949-w.
Audiolivro infantil ajuda crianças a perderem o medo de ir ao dentista
“A viagem ao consultório do dentista” é o nome do audiolivro, criado por uma ex-aluna da Faculdade São Leopoldo Mandic, para diminuir o medo e a ansiedade das crianças antes de consultas odontológicas
Diversos estudos científicos constatam que a fase mais crítica da ansiedade é a idade pré-escolar. Nos consultórios, a ansiedade pode ser amplificada pelo medo que a criança sente dos instrumentos odontológicos e, principalmente, dos sons emitidos por eles.
Para ajudar as crianças a aceitarem melhor o tratamento odontológico, a Dr.a Bianca Fiorentin Moura, especialista e mestre em odontopediatra de Chapecó (SC), desenvolveu um audiolivro voltado para crianças de 4 a 6 anos.
“A viagem ao consultório do dentista” aborda de forma lúdica os desencadeadores de medo e ansiedade na consulta odontológica, e que já foram apontados em artigos científicos.
“O audiolivro permite que as crianças recebam, por meio da história, sensações auditivas que geram medo e ansiedade, como o barulho da cadeira odontológica, da seringa tríplice, do sugador e das canetas de alta e baixa rotação”, explica a odontopediatra.
Pesquisa na Faculdade São Leopoldo Mandic
Para verificar a eficácia do seu audiolivro, Dr.a Bianca fez um estudo com 20 crianças de 4 a 6 anos.
A criação do audiolivro e a pesquisa “Avaliação da ansiedade na Odontopediatria mediante instrumento lúdico como condicionamento” fizeram parte do seu mestrado em Odontopediatria na Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, com a orientação do Prof. Dr. José Carlos Pettorossi Imparato.
Algumas crianças que participaram da pesquisa nunca tinham ido ao dentista. Todas foram avaliadas antes e depois de entrarem em contato com o audiolivro, por meio de um teste chamado Facial Image Scale – desenhos que representam emoções.
O estudo concluiu que houve redução significativa na ansiedade infantil após a aplicação do livro audiovisual.
Sobre o audiolivro
A publicação conta a história de dois irmãos, Bibi e Dudu, que, durante um sonho, são levados por uma fada ao consultório de um dentista. A fada apresenta às crianças todos os instrumentos que são usados pelo profissional e o passo a passo do atendimento. O material é interativo, com abas que instigam a curiosidade, além de espaços para a criança desenhar e pintar.
Uma contadora de histórias foi contratada para gravar o CD que acompanha o livro impresso. A padronização da leitura é uma tentativa de evitar que os pais, mesmo sem querer, repassem para os filhos seus temores com relação às idas ao dentista, na hora de narrar a história.
No final do livro, há uma lista de recomendações para os pais e responsáveis, para que a experiência da criança no dentista seja bem-sucedida.
“Com a confecção do audiolivro, eu quero que a criança se readapte e vivencie sua consulta no dentista de maneira agradável e lúdica, interagindo com o ambiente por meio da fantasia, criando uma estrutura psicológica adequada para isso”, avalia a autora.
O audiolivro na prática
“A viagem ao consultório do dentista” teve a sua primeira edição em 2013, pela Editora SG Arte Visual, de Chapecó. Foram 350 exemplares que se esgotaram rapidamente e se espalharam por consultórios e escolas da cidade.
A cirurgiã-dentista Dr.a Verônica Gusatti empresta o audiolivro para as mães mostrarem aos seus filhos antes da consulta. “Eles chegam muito mais familiarizados, tranquilos e curiosos com o atendimento. As crianças querem experimentar tudo no consultório e serem atendidos da forma que viram no livro”, conta Dr.a Verônica.
Alguns exemplares do audiolivro foram comprados pela Prefeitura Municipal de Chapecó, e usados nas visitas preventivas feitas em escolas por dentistas contratados pelo Programa Saúde da Família.
Dr.a Jaqueline Diehl Franco Moschetta é uma das profissionais da rede pública que levou o livro para as escolas da cidade. “Na infância, as crianças precisam de recursos diferentes para aprender de forma lúdica”, comenta a cirurgiã-dentista.
As mães das crianças também aprovam o audiolivro. É o caso de Rosicarla dos Santos Nonnenmacher, mãe da Isadora, 7 anos. Ela lê o livro junto com a filha, antes e após os atendimentos. “Ela perdeu o medo do consultório, porque o livro mostra como vai ser o procedimento. Isso a deixou mais segura e hoje ela adora ir ao dentista”, avalia Rosicarla.
Para que o audiolivro volte a ser editado, e possa se espalhar pelo Brasil, ajudando mais crianças, pais e dentistas, Dr.a Bianca precisa do apoio de uma nova editora. “Desejo que os ensinamentos que repasso para os responsáveis e as crianças durante as consultas transcendam o ambiente do consultório, permitindo que a família receba uma correta orientação em casa antes mesmo de chegar ao dentista”, conclui a autora.
Toxina botulínica pode ajudar no controle do bruxismo
Estudo realizado na Faculdade São Leopoldo Mandic verifica que, mesmo em baixa dosagem, a toxina botulínica reduz a atividade elétrica dos músculos mastigatórios nos pacientes com bruxismo
O bruxismo compreende os movimentos de apertar e ranger os dentes, com ou sem dor, durante a vigília ou dormindo. É um dos problemas mais observados nos consultórios odontológicos, e suas consequências podem ser graves, envolvendo dores musculares, fraturas de dentes, raízes, próteses e até implantes.
Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, avaliou a eficácia da toxina botulínica para alívio do bruxismo. “A toxina botulínica é um excelente recurso terapêutico moderno que proporciona relaxamento muscular e está em constante ascensão na área da saúde terapêutica e estética pelos benefícios que proporciona”, argumenta a cirurgiã-dentista e pesquisadora responsável pelo estudo, Dr.a Luciana Ribeiro de Campos, que foi orientada pelo Prof. Dr. Ney Soares de Araújo.
Por meio de um eletromiógrafo de superfície, que registra a atividade elétrica muscular com eletrodos adesivados na pele do paciente, a pesquisa avaliou a capacidade de relaxamento muscular e o alívio dos sintomas do bruxismo após a aplicação de toxina botulínica nos músculos da mastigação (masseter e temporal).
Os efeitos da aplicação da toxina botulínica foram avaliados em seis momentos: 1 antes e 5 após a aplicação, em intervalos de tempo de 1, 2, 4, 8 e 12 semanas. Também foi feita uma avaliação por meio de questionário, no início e final dos registros.
Segundo Dr.a Luciana, vinte pacientes com bruxismo participaram da pesquisa, e todos eles descreveram grande alívio com relação ao bruxismo. “O estudo concluiu que, mesmo em baixa dosagem, a toxina botulínica promoveu significativa redução na atividade elétrica dos músculos mastigatórios nos pacientes com bruxismo.”
No entanto, a pesquisadora enfatiza que outras pesquisas são necessárias com doses comparativas e maior número de participantes.
Tipos de bruxismo e eficácia do tratamento
Dr.a Luciana explica que o bruxismo é dividido em bruxismo primário e bruxismo secundário, enfatizando que as causas desse problema influenciam na dificuldade ou facilidade de controlá-lo.
O primário está relacionado às causas emocionais, especialmente ao estresse emocional. O bruxismo secundário está relacionado às condições sistêmicas, desordens neurológicas, distúrbios mentais, efeitos de medicamentos e de drogas de abuso.
“Normalmente, o bruxismo primário é mais fácil de ser controlado, em relação à dose de toxina botulínica aplicada e o resultado do tratamento. Já o bruxismo secundário, provavelmente, exigirá doses maiores de toxina botulínica e, talvez, recursos de tratamentos associados mas, mesmo assim, sempre poderá proporcionar grande alívio para o paciente”, afirma a cirurgiã-dentista.
Benefícios da toxina botulínica
“A toxina botulínica é um recurso terapêutico para o paciente que sofre com o bruxismo, com fortes dores musculares ou que apresenta fraturas de dentes, raízes, restaurações e até mesmo de barras de implantes de titânio. O paciente pode ter esse quadro solucionado temporariamente de forma simples, minimamente invasiva e com custo não tão alto”, avalia Dr.a Luciana.
O estudo ainda verificou que as doses aplicadas de toxina botulínica podem ser menores do que aquelas sugeridas pela literatura. “Isso significa menor custo para o paciente com a mesma eficácia de tratamento”, afirma.
Por enquanto, todos os tratamentos existentes para o bruxismo ainda são paliativos e necessitam, por exemplo, de várias sessões para ajuste das placas acrílicas, que ainda é a primeira opção de tratamento. Além disso, há desconforto no uso desse aparelho intraoral, relatado especialmente por pacientes obesos ou que respiram pela boca.
“A toxina botulínica é uma ótima opção de tratamento por não exigir nada do paciente e por proporcionar uma boa duração de efeito ao longo do tempo, pois reduz hipertrofias musculares quando existentes e, com isso, também a potência muscular”, conclui a pesquisadora.
Pesquisa avalia o risco de infecção dentária causar sinusite maxilar
Aluna da Faculdade São Leopoldo Mandic analisou exames tomográficos e verificou maior chance de pacientes com infecção dentária desenvolverem sinusites
A sinusite odontogênica é uma infecção de origem dentária que se manifesta no seio maxilar.
Porém, por não ser diagnosticada da forma correta, muitas vezes é tratada como outros tipos de sinusite, o que não resolve os sintomas apresentados pelo paciente.
Com a intenção de avaliar a relação entre determinadas infecções originadas nos segundos pré-molares e molares superiores com a sinusite maxilar, uma pesquisa desenvolvida na São Leopoldo Mandic analisou exames de tomografia computadorizada de feixe cônico, realizados no período de 2013 a 2018, na Clínica de Radiologia da Faculdade.
No total, 431 dentes foram analisados e caracterizados quanto à prevalência de infecções dentárias. Também foram descritos os tipos de sinusite apresentados pelos pacientes que fizeram parte da amostra.
Ao final do estudo, a pesquisa constatou que há associação entre infecções dentárias e sinusopatias.
“Cirurgiões-dentistas e médicos devem descartar as infecções de origem dentária nos casos de sinusopatias. Uma vez que a causa seja a infecção dentária, o paciente terá o tratamento adequado para sua patologia”, conclui Dr.a Fernanda Ramia Curi, depois de fazer a pesquisa para a obtenção do título de mestre, na área de Radiologia Odontológica, com a orientação da professora Dr.a Francine Panzarella.
Anatomia e proximidade do seio maxilar com raízes dentárias
De acordo com diversos estudos científicos, a disseminação de infecções dos dentes posteriores até o seio maxilar da face é facilitada pela proximidade anatômica entre as raízes dos dentes e o assoalho do seio maxilar.
Na pesquisa da Dr.a Fernanda, foram estudados os dentes posteriores superiores e ficou evidente que infecções, provenientes de qualquer um desses dentes, podem causar sinusite.
“Não houve um dente ou raiz em específico que estivesse associado à presença da sinusopatia. Existe sim relação entre infecções dentárias e sinusite maxilar, mas isso não depende do tipo de dente”, esclarece a pesquisadora.
Tipos de lesão dentária e sinusite
A pesquisa, desenvolvida na Faculdade São Leopoldo Mandic, constatou que a presença de lesões aumentou o risco de velamento parcial dos seios maxilares – um dos sintomas da sinusite – sendo este aumento de 34,1 vezes em lesão periapical, 228,8 vezes em lesão endoperiodontal e a exposição de furca em 11,6 vezes.
A lesão endoperiodontal foi a pericopatia que se mostrou mais associada às sinusopatias e sua presença elevou o risco de velamento total em 48,5 vezes.
Relevância da pesquisa
De acordo com a Associação Americana de Endodontia, “mesmo que os sintomas e sinais radiográficos sejam semelhantes aos de outras sinusopatias, a patogênese e o tratamento para a sinusite odontogênica é completamente diferente dos outros tipos de patologias nos seios maxilares, portanto, se a infecção de origem dentária for negligenciada, o tratamento médico não resolverá o caso”.
A falha em diagnosticar e tratar adequadamente a sinusite de origem endodôntica resulta na persistência da doença.
Além disso, há a possibilidade de a patologia evoluir para infecções craniofaciais mais graves e com risco de morte.
O estudo feito na SLMANDIC alerta para que médicos e cirurgiões-dentistas estejam atentos aos casos de infecção em dentes posteriores, pois existe o risco do desenvolvimento da sinusite odontogênica.
Patente desenvolvida na SLMANDIC cria artefato para amortecer o impacto da mastigação sobre implantes e tecidos peri-implantares
Implantes dentais e próteses são tratamentos comuns em Odontologia, mas que estão sujeitos a tensões durante a mastigação que podem levar ao aparecimento de microfendas. Essas microfendas ficam entre os componentes protéticos e a plataforma dos implantes, onde pode haver acúmulo de fluidos bucais favoráveis ao desenvolvimento de inflamações.
Para solucionar esse problema, Reynaldo Porcaro Filgueiras, doutor em Clínicas Odontológicas pela Faculdade São Leopoldo Mandic, criou um componente que poderia amenizar as tensões geradas pela mastigação sobre o implante, os componentes protéticos e os tecidos peri-implantares – que circundam os implantes – do paciente.
“Pensei nesse artefato depois de observar os trabalhos científicos e as evidências clínicas das intercorrências na implantodontia, causadas pela mastigação e pelos hábitos parafuncionais [que causam pressões inadequadas na articulação temporomandibular, como bruxismo, roer unhas, colocar objetos entre os dentes], que podem levar ao insucesso de todo o tratamento”, afirma o Dr. Reynaldo.
O cirurgião-dentista criou o “Artefato para amortecer o impacto mastigatório sobre implantes dentários e tecidos peri-implantares” durante o doutorado na Faculdade São Leopoldo Mandic, que originou o depósito de registro de patente de invenção no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). O trabalho foi orientado pela professora Dr.a Fabiana Mantovani Gomes França.
O componente é um anel de polipropileno com um orifício central, de diâmetros externo e interno semelhantes às dimensões da plataforma do implante. A espessura do anel depende do componente protético utilizado. Ele deve ser inserido entre um implante dentário e um componente protético, além de estabilizado por um parafuso protético, o que evita o contato entre os metais. “As tensões seriam amortecidas por causa da propriedade elástica do material”, explica o inventor da patente.
O polímero foi escolhido para ser a matéria-prima do anel porque possui algumas vantagens em relação a outros materiais, como resistência ao impacto, a produtos químicos e ataques biológicos, auto-lubrificação que dispensa qualquer manutenção, alta absorção de ruído, é livre de corrosões, oxidação ou incrustações.
O Dr. Reynaldo afirma que “o produto pode proporcionar longevidade e qualidade para os implantes, o que impacta em melhor qualidade de vida aos pacientes” e explica que, para ser produzido em escala comercial, o componente ainda passará por inúmeros testes laboratoriais na São Leopoldo Mandic.
Patente: aluno da São Leopoldo Mandic desenvolve aplicativo que auxilia no controle da DTM e Dor Orofacial
O aplicativo DTM Clínica permite ao paciente registrar e caracterizar todas as ocorrências de dor orofacial e pode ser acessado gratuitamente na Google Play
O Diário de Dor é bastante utilizado em Neurologia para diagnosticar e tratar cefaleias, mas as anotações são normalmente feitas pelo paciente em papel. Para tentar modernizar essa ferramenta e direcionar seu uso para a DTM (Disfunção Temporomandibular) e a Dor Orofacial – na boca e face -, o cirurgião-dentista Dr. Eujácio Vieira Prates Netto desenvolveu um aplicativo para celular no qual o paciente registra e classifica as ocorrências de dor.
A ferramenta funciona por meio da integração de um aplicativo para smartphone, com sistema Android, e uma plataforma web. O paciente registra e caracteriza todas as ocorrências de dor orofacial no aplicativo, e o cirurgião-dentista acessa esses dados por meio de uma plataforma on-line em um computador conectado à internet.
“Essas informações tendem a ser mais fidedignas por terem sido alimentadas durante a ocorrência da dor, o que facilita a avaliação e a conduta do profissional”, explica o Dr. Eujácio.
Estudos epidemiológicos estimam que entre 40 e 75% da população apresentam ao menos um sinal de DTM. “Por ser uma experiência subjetiva, a dor não pode ser objetivamente determinada por instrumentos físicos, fazendo com que o relato do paciente seja bastante valioso. Essa ferramenta contribuirá para que o profissional de saúde tenha um maior controle das características da DTM e das dores orofaciais que o paciente apresenta”, diz o cirurgião-dentista.
O aplicativo DTM CLÍNICA já está disponível gratuitamente na Google Play e a plataforma web pode ser encontrada em www.dtmclinica.com.br.
A plataforma disponibiliza a análise de gráficos que mostram a evolução do paciente entre as consultas, comparando-a com a situação apresentada no consultório. Além disso, o cirurgião-dentista tem a sua disposição uma tela com informações baseadas no DC/TMD (Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders) Eixo I para auxiliá-lo no diagnóstico.
O aplicativo foi criado na Faculdade São Leopoldo Mandic, onde o Dr. Eujácio fez o Mestrado em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, coordenado pelo professor Dr. Antonio Sérgio Guimarães.
O trabalho de pesquisa foi orientado pela professora Dr.a Luciane Rocha Rodrigues e deu origem à patente do Diário de Dor Orofacial Eletrônico. O Pedido de Registro de Programa de Computador já foi depositado no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
Vacina: confiança e hesitação no Brasil
Vacina: confiança e hesitação no Brasil
Autores: Brown AL, Sperandio M, Turssi CP, Leite RMA, Berton VF, Succi RM, Larson H, Napimoga MH
Objetivo: Apesar dos benefícios gerais da imunização, a hesitação vacinal tem sido uma tendência crescente e tem sido associada ao ressurgimento de doenças evitáveis por vacinação. O objetivo deste estudo foi avaliar a confiança e hesitação das vacinas no Brasil, como parte de um projeto mais amplo para mapear a confiança das vacinas globalmente. Foram entrevistados mil sujeitos, on-line ou presenciais, com base em um questionário geral sobre percepções de vacinas e vacinação. Outras perguntas exploratórias foram usadas com o subconjunto de entrevistados que eram pais de crianças com menos de 5 anos. Essas perguntas extraíam informações sobre o comportamento de vacinação, opiniões sobre vacinação e serviços de saúde do governo e vacinação hesitante. Razões para hesitação foram classificadas como relativas à confiança, conveniência e / ou complacência, e a população também foi analisada sociodemograficamente. Os resultados mostraram que a confiança geral na imunização foi maior do que a confiança nos serviços de planejamento familiar, agentes comunitários de saúde e serviços de emergência. Setenta e seis pessoas relataram hesitação em vacinar. Os motivos mais comuns de hesitação foram problemas com confiança (41,4%), eficácia / segurança da vacina (25,5%) e preocupações com eventos adversos (23,6%). A análise sociodemográfica revelou que a hesitação vacinal estava associada ao estado civil, escolaridade e renda. Apesar da confiança geral da vacina ser alta, uma tendência clara para níveis mais baixos de confiança foi associada a níveis mais altos de hesitação, o que garante monitoramento contínuo, devido à natureza dinâmica e mutável da hesitação da vacina.
Publicado no periódico: Cadernos de Saúde Pública
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