Nesta última segunda-feira, 26/8, aconteceu o I Simpósio de Financiamento dos Sistemas de Saúde no Brasil e os Novos Modelos de Remuneração, na sede da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas. O evento reuniu grandes nomes da área, como Mario Scheffer, professor Doutor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP); o médico e diretor do Ministério da Saúde, Marcelo Campos de Oliveira, e Geraldo Alckmin, ex-Governador e atual docente da SLMANDIC, entre outros.
A abertura do evento contou com a fala do professor doutor Thiago Trapé, um dos organizadores do evento; destacando a importância de discutir o tema que afeta os sistemas público e privado da saúde do país.
Francisco Balestrin abordou os modelos de gestão e como capacitar executivos na área da saúde. “Entre as características que se espera de um gestor em saúde destaca-se a liderança, a responsabilidade social e o conhecimento da área”, pontuou.
Mesas redondas para discussão do cenário brasileiro em saúde
A primeira mesa do Simpósio “Cenário de Financiamento em saúde no Brasil”, reuniu Marcelo Campos de Oliveira, Thiago Trapé, Geraldo Alckmin e Erickson Blun. O médico e diretor do Ministério da Saúde, Marcelo Campos de Oliveira, fez uma rápida fala sobre modelos de financiamento e leis criadas para a otimização do recurso público destinado à saúde. Doutor Thiago Trapé trouxe um amplo contexto histórico dos sistemas de saúde, internacionais e nacionais, apresentando números e dados de cada um deles, ressaltando os pontos fortes de cada sistema. “Todos os sistemas de saúde são estruturados a partir de elementos históricos, culturais, econômicos e políticos, além dos avanços tecnológicos”, disse ele.
Questões econômicas que envolvem o sistema de saúde do Brasil foi o foco da fala de Geraldo Alckmin, médico anestesiologista e professor da SLMANDIC. Alckmin enfatizou os inúmeros fatores que contribuem para a crise que afeta o sistema público de saúde do país. “O custo do uso de novas tecnologias, as novas necessidades da população, elevam os preços dos planos de saúde. Mais pessoas param de pagar e o sistema público sofre com a alta demanda. Este também está sofrendo com o baixo investimento por conta da crise, e a saúde como um todo fica prejudicada”, concluiu.
Planos de saúde
Erickson Blun, diretor presidente do Hospital Vera Cruz de Campinas, fez um contraponto das falas anteriores, trazendo as características do sistema privado de saúde e mostrou que o sistema privado, assim como o sistema público, sofre com a escassez de recursos financeiros. E destacou que pouco tem sido feito para evitar gastos equivocados por parte dos planos de saúde. “Poucas são as ações concretas capazes de colocar um fim nesta situação de excesso de exames, de procedimentos. Este cenário afeta a eficiência dos hospitais”, finalizou.
Na segunda mesa do Simpósio “O Cenário da Judicialização e o Impacto na Cadeia Produtiva do Setor Público e Suplementar”, o Coordenador de Graduação em Medicina da SLMANDIC, doutor Guilherme Succi, falou sobre o processo de Judicialização na saúde, apresentando dados sobre o atual cenário na área. “Novos tratamentos e medicamentos são os principais elementos que elevam o número de processos judiciais todos os anos”, afirmou o Coordenador.
Mario Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, também abordou o tema da judicialização. Ele afirmou que esta é a questão que mais influencia na qualidade dos serviços prestados pelos planos de saúde. “O reajuste nos planos de saúde está entre os fatores que mais aumentam a judicialização no Brasil, além do bloqueio de serviços e a desregulamentação. É importante destacar, ainda, que a população acima de 59 anos é a mais prejudicada neste cenário, ” afirmou Scheffer.
Tereza Gutierrez, advogada coordenadora do grupo ANAHP – Associação Nacional dos Hospitais Privados, apresentou as principais dificuldades enfrentadas pelos planos de saúde no processo de regulação, e destacou que são inúmeras as liminares envolvendo novos tratamentos. “O acesso à justiça não pode ser dificultado, mas o excesso de processos envolvendo a regulação é um problema que deve ser enfrentado para a sustentação dos sistemas de saúde”, defendeu.
Em “Tecnologias e Sustentabilidade nos Sistemas de Saúde”, Dirceu Barbano, ex-presidente da ANVISA, falou sobre a relação entre inovação na indústria e regulação da saúde. “O sistema de saúde tem tido mais facilidade de absorção das novas tecnologias, e entendendo que elas custam mais, porém são fundamentais”. Porém, Barbano acredita que, ainda assim, falta uma maior transparência de dados que comprovem a eficiência destes tratamentos e medicamentos, bem como de uma regulação eficiente a respeitos destes.
A docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FM/USP, coordenadora do núcleo de vigilância epidemiológica do Hospital das Clínicas FM/USP, Dra. Maria Novaes falou sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde, destacando que foi a partir da década de 70 que teve início o aumento da produção e oferta de tecnologias para a saúde. E assim como outros palestrantes discutiu a questão da juducialização. Na opinião da professora, fatores políticos, econômicos de custo e atuais, bem como o surgimento de doenças raras contribuem para o aumento da judicialização.
Murilo Contó, representante da Coordenação de Investimentos em Saúde da Boston Scientific, apresentou as características dos sistemas de financiamento no Brasil. Na visão de Contó, “gastar muito não significa necessariamente alcançar bons resultados”. O representante falou sobre as diferentes agências reguladores do país e o papel que cada um exerce, enfatizando que cada uma delas tem os seus prazos de regulamentação, e que as incorporações tecnológicas influenciam no número de demandas destas agências.
Atenção Primária à Saúde
A “A Atenção Primária à Saúde na Sustentabilidade dos Sistemas – Organização e Remuneração”, reuniu o médico de Família e Comunidade e professor da SLMANDIC, Giuliano Dimarzio, a médica, conselheira de administração da Unimed Campinas, Carla Rosana, e o médico de Família e Comunidade da Amparo Saúde, André Lucio de Cassias para discutir os impactos da atenção primária a saúde nos sistemas públicos e privados.
Giuliano Dimarzio fez um resgate histórico sobre o surgimento da Medicina de Família e Comunidade no exterior, como ela foi incorporada no Brasil, os principais avanços da especialidade e os benefícios desta para a Atenção Primária à Saúde (APS). “Os sistemas ordenados pela Atenção Primária são mais efetivos, eficientes, equitativos e de maior e melhor qualidade”, pontuou Dimarzio.
Dra. Carla Rosana falou sobre o processo de implantação da Atenção Primária à Saúde – Unimed Mais, em Campinas. A doutora acredita que este novo cenário do plano de saúde oferecido pela Unidade Campinas é a oportunidade de oferecer aos pacientes um atendimento humanizado, completo e direcionado às necessidades de cada pessoa. “Este é um sistema que é bom para o médico, mas é melhor ainda para o paciente”, disse ela.
O médico André Cassias, apresentou o processo de implantação e funcionamento da Amparo Saúde, rede de clínicas cujos atendimentos são realizados por médicos de Família e Comunidade. Para ele, a APS tem que ser independente, autônoma e livre de conflitos para uma melhor eficiência. A partir da experiência da Amparo, apresentou dados referentes ao cenário da Medicina de Família e Comunidade no país.
Remuneração
O consultor da KPMG, o médico Daniel Greca, falou sobre a “Remuneração Baseada em Valor” e apresentou um Manual de Boas Práticas de Consultoria em Saúde. O material reúne os pilares da consultoria de sistemas de saúde, a partir de cases de sucesso da KPMG. Daniel destacou a governança clínica como o principal pilar para o sucesso na implantação de modelos de remuneração.
Em seguida, Fábio Gonçalves, Access Officer do Hospital Care, reuniu informações sobre como criar sistemas eficientes que mensurem a qualidade de um sistema de saúde, dentro e fora do país. E defendeu a interação entre médico e paciente e os protocolos clínicos como as principais características dos sistemas de sucesso.
Por fim, Francisco Balestrin abordou o tema da “Liderança necessária para transformar o Sistema”. “Atualmente, vivemos a chamada liderança 4.0, baseada na capacidade de se alinhar rapidamente com o ambiente, as novas ferramentas e expectativas sociais”, explicou. Balestrin apontou que o sucesso do modelo atual de liderança existe porque está atrelado à comunicação e as redes.