Estudo feito na São Leopoldo Mandic alerta sobre os riscos da polifarmácia e seu impacto na saúde bucal de idosos

 

O envelhecimento da população é uma realidade na maioria dos países do mundo. No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que em 2030 haverá mais brasileiros com mais de 60 anos de idade do que na faixa de 0 a 14 anos. Os avanços da medicina, junto com o uso de medicamentos, são os principais fatores responsáveis para elevar a expectativa de vida da população. No entanto, os remédios devem ser prescritos e usados com cautela e responsabilidade, caso contrário podem até mesmo debilitar a saúde dos idosos.

“As alterações fisiológicas, próprias do envelhecimento, podem fazer com que os medicamentos reajam de forma diferente nos pacientes idosos.  Isso aumenta a probabilidade de ocorrerem interações medicamentosas e também torna esse grupo mais suscetível às reações adversas”, explica Carolini Satiko Tanaka, mestranda em Prótese Dentária. No estudo “Identificação dos medicamentos potencialmente inapropriados prescritos para idosos e as implicações na reabilitação oral”, desenvolvido na Faculdade São Leopoldo Mandic, Tanaka identificou esses remédios prescritos para idosos institucionalizados – que vivem em instituições de longa permanência – e verificou nas bulas as possíveis reações adversas que poderiam interferir na reabilitação oral desses pacientes.

Os Medicamentos Potencialmente Inapropriados (PIMs) são aqueles cujos riscos prevalecem sobre os potenciais benefícios. O uso desses remédios é um dos fatores de risco para quedas, hospitalizações e mortalidade em idosos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, até 20% de todas as internações de idosos são provocadas por problemas relacionados ao uso de medicamentos.

A pesquisa identificou que os idosos selecionados utilizavam 127 medicamentos que podem causar algum tipo de efeito colateral que atinge a cavidade bucal. Segundo Tanaka, a xerostomia – sensação de boca seca – foi o efeito mais prevalente na amostragem e pode provocar desconforto oral, sensação de queimação, mudanças na mucosa oral, halitose, diminuição na retenção de próteses removíveis, alteração do paladar, dificuldade na mastigação e deglutição, sede excessiva, candidíase, doença periodontal e cáries.

Os riscos da polifarmácia

Quanto mais medicamentos são prescritos para o idoso, maior é a probabilidade de que ele possa apresentar complicações do que benefícios.

A pesquisadora conta que, na amostra analisada, dos 227 princípios ativos utilizados pelos idosos, 34 são considerados inapropriados. E quase 77% dos pacientes faziam uso de pelo menos um desses medicamentos, sendo que a média de remédios por paciente foi de 8,01. Os anti-hipertensivos foram os mais prescritos.

“Existem danos causados pelas interações medicamentosas que são silenciosos, tardios e, às vezes, irreversíveis. Portanto, é extremamente importante racionalizar o uso de medicamentos para evitar os agravos da polifarmácia”, esclarece Tanaka. Ela alerta para o risco de osteonecrose dos maxilares – morte do tecido ósseo por falta de irrigação sanguínea -, que é considerado um efeito colateral bastante grave e foi encontrado na bula de três remédios listados durante a pesquisa.

A saúde bucal é parte fundamental da qualidade de vida dos idosos. A pesquisadora, que foi orientada pela Prof.a Dr.a Raquel Virgínia Zanetti, em conjunto com o Prof. Dr. Eduardo Hebling (FOP/UNICAMP) e Prof.a Tânia e Silva Pullicano Lacerda (UNICID/SLMANDIC),  reforça que “o cirurgião-dentista deve conhecer as alterações que podem ocorrer na cavidade bucal da população idosa, devido ao envelhecimento fisiológico e aos efeitos adversos dos medicamentos de uso sistêmico, para que seja capaz de planejar um tratamento ideal e individualizado, melhorando assim, a qualidade de vida desta população”.