Desde o final de 2020, existe uma grande preocupação mundial em relação às variantes do SARS-CoV-2: B.1.1.7, identificada no Reino Unido; B.1.351, descoberta na África do Sul; e P1, originária do Amazonas, no Brasil. As três variantes estiveram relacionadas ao aumento da transmissibilidade e ao agravamento da situação epidemiológica nos locais onde se expandiram. A linhagem B.1.1.7 foi associada ao aumento da taxa de letalidade no Reino Unido, e ainda não há estudos sobre as demais variantes.
Frente a esse cenário, o médico epidemiologista e professor da Faculdade São Leopoldo Mandic, André Ricardo Ribas Freitas, juntamente com outros profissionais da área, realizou o estudo “The emergence of novel SARS-Cov-2 variant P1 in Amazonas (Brazil) was temporally associated with a change in the age and gender profile of COVID-19 mortality”, com o objetivo de analisar o perfil de mortalidade antes e após o surgimento da cepa P1 no estado do Amazonas.
Para isso, compararam dois períodos epidemiológicos distintos: o pico da primeira onda (entre abril e maio de 2020) e o momento da segunda onda em que a nova variante passou a predominar (janeiro de 2021). “Calculamos as taxas de mortalidade, letalidade geral e letalidade entre os pacientes hospitalizados. Esses números foram calculados por idade e sexo, e os intervalos de confiança (que indicam a confiabilidade de uma estimativa) foram de 95%”, explica Ribas.
Como resultado, foi observado que na segunda onda houve maior incidência e aumento da proporção de casos de covid-19 nas faixas etárias mais jovens. E também crescimento na proporção de mulheres entre os casos de Infecção Respiratória Aguda Grave (IRAG): de 40% (2.709) na primeira onda para 47% (2.898) na segunda onda. E, por fim, elevação na proporção de óbitos por covid-19 entre os dois períodos, variando de 34% (1.051) a 47% (1.724).
Além disso, a proporção de mortes entre pessoas de 20 a 59 anos de idade aumentou em ambos os sexos. E a taxa de letalidade dos internados com idades entre 20 e 39 anos de idade durante a segunda onda foi 2,7 vezes a taxa observada na primeira onda.
Com base nessa rápida análise, as mudanças observadas no padrão de mortalidade por covid-19 entre grupos de idade e gênero simultaneamente ao surgimento da cepa P1 sugerem mudanças na patogenicidade e também no perfil de virulência dessa nova variante.
É preciso destacar que mais estudos são necessários para melhor compreensão do perfil das variantes do SARS-CoV-2 e seu impacto para a população em saúde.
Acesse a pesquisa completa: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3804788