Cerca de 200 pessoas, entre profissionais e gestores de serviços de saúde e estudantes de graduação e pós-graduação, estiveram reunidas nesta sexta-feira, dia 17 de maio, para o Seminário Internacional de Políticas de Redução de Danos, na Faculdade São Leopoldo Mandic. O evento foi realizado pelo Ipads (Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social) e pela SLMANDIC e contou com a participação de vários especialistas para falar sobre o histórico, as atualidades e perspectivas em redução de danos.
A primeira mesa de debates foi composta pelo sociólogo Dr. Maurício Fiore e Dr. Thiago Trapé, professor da Faculdade São Leopoldo Mandic. Fiore, que é pesquisador do Centro brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip) e da Associação Brasileira de Estudos Sociais sobre o Uso de Psicoativos (Abesup), falou sobre a natureza conceitual do termo “redução de danos”, com foco em política de drogas, que, segundo ele, é a maneira como o Estado se posiciona diante do consumo de substâncias psicoativas.
Fatores históricos
Fiore afirmou que havia no Brasil a crença de que a redução de danos não seria necessária, pois o uso de drogas injetáveis não é prevalente. Havia, portanto, uma preocupação apenas com o compartilhamento de seringas contaminadas e a proliferação de doenças infectocontagiosas, como a AIDS. Porém, ao longo do tempo essa visão tem se transformado e se estendido para o uso de drogas lícitas, como o álcool e o tabaco.
Ele mostrou diversos aspectos históricos da redução de danos e a tendência, na atualidade, de se oferecem cuidados em saúde para dependentes químicos sem exigir deles a abstinência. “O importante é proporcionar qualidade de vida”, afirmou.
Fiore ainda falou sobre a história do proibicionismo e da criminalização das drogas e os cenários regulatórios dicotômicos. “Temos que colocar muita complexidade nessa discussão, cada tipo de droga e cada grau de consumo precisa de tipos diferentes de ações para redução de danos”, disse.
O sociólogo também enfatizou que o pragmatismo deve orientar a redução de danos. “Devemos criar regras para diminuir os danos, baseadas em evidências que compravam a eficácia delas”.
Controle ambiental
Com relação ao tabaco, Fiore falou sobre a regulação ambiental e o cigarro eletrônico. Para ele, o controle ambiental é a melhor forma de prevenção do vício em nicotina. “Definir quando, como e onde é permitido fumar, e também quem pode fumar, é uma forma de controle que pode ser eficaz”, enfatizou.
Sobre cigarros eletrônicos, ele diz que é preciso ter cuidado. “Nos EUA, os cigarros eletrônicos estão atraindo novos consumidores. A curva entre os jovens é ascendente.”
Evidências clínicas
A segunda mesa de debates do dia foi composta por Dr. André Malbergier, do Departamento de Psiquiatria e HC da USP, e Dr. Pedro Farsky, cardiologista do Instituto Dante Pazzanese e Hospital Israelita Albert Einstein. Malbergier falou sobre “Evidências Clínicas na Prática de Redução de Danos”.
O psiquiatra expôs primeiro o conceito de redução de danos. “É preciso lidar com o fato de que a adesão aos tratamentos é feita por uma minoria de pessoas que precisam de ajuda. E em muitos países ainda há a tradicional dicotomia do tudo ou nada, que tem a total abstinência como meta necessária para a abordagem do usuário”.
Malbergier também enfatizou que a redução de danos precisa ser vista de maneira pragmática. “Se você não consegue parar de usar determinada droga, pelo menos use da forma menos danosa possível”, disse.
Tabagismo
Ele mostrou dados sobre a epidemiologia do tabagismo – mais de 1,1 bilhão de pessoas fumam tabaco no mundo – e o impacto disso para a saúde do indivíduo e a sociedade. “Nem todo fumante quer ou consegue parar de fumar”, observou.
Malbergier também fez um alerta com relação aos cigarros eletrônicos. “Os e-cigarros funcionam com bateria e liberam a nicotina por vaporização. É possível colocar um líquido neles que contém diversos sabores. Isso pode atrair crianças e adolescentes para o tabagismo ao invés de controlar o vício”, afirmou.
Para o psiquiatra, o governo deve regulamentar a propaganda e o marketing, porque influenciam a percepção de quem consome cigarro convencional e eletrônico. “O FDA (Food and Drug Administration) ainda não aprovou o e-cigarro como estratégia de redução de danos em tabagismo. Os riscos para a saúde ainda são desconhecidos. É preciso considerar o poder da indústria que está por trás do cigarro eletrônico”, alertou.
O evento prosseguiu com a palestra da professora Dr.a Silvia Cazenave sobre “Marcos Regulatórios para Redução de Danos” e a mesa de debates sobre “A experiência internacional em redução de danos no tabaco”, com o PhD. Kevin McGuirre e Dr. José Queiroz, com a moderação da professora Mônica Gorgulho.
Após o evento, foi escrita e publicada uma carta síntese, com os principais debates e recomendações sobre o tema, que foi debatido entre os especialistas na área. Para acessar a carta acesse o link.