Várias palestras fizeram parte da programação do primeiro dia do Simpósio “Sono: Interface entre Odontologia e Medicina”, que começou hoje, dia 15 de fevereiro, na Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas. Na plateia, quase 200 pessoas, entre cirurgiões-dentistas, médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas, reuniram-se para debater as pesquisas científicas mais recentes sobre os distúrbios do sono e a dor orofacial.
A primeira palestra do dia foi sobre “Introdução ao Sono, Diagnóstico das Doenças do Sono e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono”, ministrada pelo Dr. Bruno Bernardo Duarte, médico especialista em medicina do Sono e responsável pelo Ambulatório de Ronco e Apneia do Sono do Hospital da PUC-Campinas. Ele mostrou o panorama geral da Medicina do Sono no Brasil, lembrando que o sono começou a ser estudado na década de 70 e que, nos últimos 20 anos, as pesquisas foram intensificadas nesta área.
Dr. Bruno falou sobre o ciclo sono-vigília, as fases e a fisiologia do sono e o diagnóstico e tratamento dos principais Distúrbios Respiratórios Obstrutivos do Sono – o ronco e a apneia obstrutiva do sono. Ele questionou o que pode ser considerado um “sono normal”, já que o sono depende da idade e da cultura em que o paciente está inserido, e ressaltou que é preciso individualizar cada caso que chega ao consultório.
Com relação ao diagnóstico, o médico falou sobre a polissonografia, um exame complementar que pode ser feito em laboratório ou em domicílio. Ele mostrou como é feita a leitura do exame e quando precisa ser indicado. Dr. Bruno expôs os diversos tipos de tratamento para apneia obstrutiva do sono, como as cirurgias orofaríngeas, os procedimentos palatais, a terapia posicional, os aparelhos intraorais de avanço mandibular e o CPAP (Dispositivo de Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas).
Aparelhos Intraorais
Em seguida, aconteceu a palestra da Dr.a Izabella Paola Manetta Signorini, cirurgiã-dentista do Ambulatório de Ronco e Apneia do Sono do Hospital da PUC-Campinas, sobre aparelhos intraorais de avanço mandibular para tratar ronco e apneia. Ela fez uma análise sobre qual seria o melhor aparelho intraoral, comparando pré-fabricados e não tituláveis, os individualizados e não tituláveis (avanço mandibular máximo) e os individualizados e tituláveis (avanço mandibular progressivo). “Existem muitos tipos de aparelho. É preciso considerar que muitos estudos comprovam a importância do avanço mandibular. A partir de 50% de avanço mandibular, o paciente começa a ter melhorias”.
A Dr.a Izabella ainda falou sobre as contraindicações dos aparelhos intraorais, os fatores relevantes que devem ser observados nos pacientes, a avaliação da eficácia do tratamento com aparelho e seus efeitos colaterais. “O CPAP tem mais eficiência para tratar apneia, porém o paciente consegue usar os aparelhos intraorais por mais tempo, fazendo com que a adesão ao tratamento seja maior e os resultados sejam melhores”. A cirurgiã-dentista ressaltou que há estudos científicos que comprovam o efeito favorável dos aparelhos intraorais sobre o sistema cardiovascular. “Os aparelhos intraorais e o CPAP podem diminuir a pressão arterial”.
Bruxismo
Para finalizar as palestras da manhã, a Dr.a Adriana Lira Ortega, cirurgiã-dentista e pós-doutora em Patologia Bucal, falou sobre bruxismo na infância e na adolescência. Ela expôs informações sobre o diagnóstico e o tratamento do bruxismo e alguns mitos que existem sobre esse assunto. “Bruxismo não é DTM e bruxismo não tem a ver com a oclusão dentária. Muita gente faz confusão”.
A Dr.a Adriana lembrou que o bruxismo requer uma abordagem transdisciplinar, envolvendo a Pediatria, a Medicina do Sono, a Psicologia, a Otorrinolaringologia e a Odontologia. “O bruxismo é bem mais do que um problema de dentes desgastados”. Ela falou ainda sobre os fatores que podem causar o bruxismo em crianças e adolescentes, como alergias, apneia, asma, refluxo, TDAH, autismo, Síndrome de Down e determinados fármacos. A Dr.a Adriana ressaltou que os fatores emocionais, como o estresse e a ansiedade, podem estar mais ligados à percepção errônea das mães do que a algum problema real que leve ao bruxismo.
Até o fim do dia, ainda falaram a Dr.a Liete Swir, doutora em Ciências da Saúde da UNIFESP, sobre comorbidades inflamatórias e degenerativas em DTM, a Dr.a Juliana Trindade Clemente Napimoga, professora da Faculdade São Leopoldo Mandic, sobre a interface neuroimune da dor, o Dr. Leonardo Rigoldi Bonjardim, professor da FOB/USP, sobre testes quantitativos sensoriais, e o Dr. Antônio Sérgio Guimarães, professor de pós-graduação da SLMANDIC, sobre avaliação interdisciplinar do sintoma do paciente baseado na web.
Amanhã, dia 16 de fevereiro, a palestra “Sono e Dor: Novas Fronteiras e Perspectivas” será ministrada por Miguel Meira e Cruz, Presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, e encerra o primeiro Simpósio do ano realizado pela São Leopoldo Mandic.