Nos últimos anos, a obesidade infantil tem se tornado uma preocupação crescente no Brasil e no mundo. De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, o número de atendimento a crianças com obesidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apresentou um aumento expressivo, quase triplicando entre 2014 e 2024.
Essa é uma condição de saúde associada a hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e fatores emocionais. Ademais, quando não tratada, a obesidade infantil pode desencadear doenças crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e distúrbios cardiovasculares ainda na juventude.
Neste artigo, você vai descobrir o que caracteriza a obesidade infantil, por que ela acontece, quais são seus impactos e como profissionais de saúde podem contribuir para prevenir e tratar essa condição.
O que é obesidade infantil e como é diagnosticada?
A obesidade infantil é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que pode comprometer a saúde física e emocional da criança. Até alguns anos atrás, o diagnóstico se baseava na relação entre peso e altura, calculada por meio do Índice de Massa Corporal (IMC).
Quando se tratava de crianças e adolescentes, o IMC era interpretado de acordo com as curvas de crescimento e percentis específicos para idade e sexo. Sendo assim, as avaliações utilizavam essas informações para identificar quadros de sobrepeso ou obesidade, considerando o desenvolvimento esperado para cada faixa etária.
Por exemplo, o percentil acima de 97, caracterizava um caso de sobrepeso. Da mesma forma, quando a criança apresentava um percentil inferior abaixo de 3, considerava-se um caso de baixo peso e até risco nutricional.
No entanto, nos últimos anos, pesquisadores e profissionais da saúde passaram a questionar a utilidade e a precisão do método no diagnóstico da obesidade, sobretudo por o considerarem simplista na análise individual de cada paciente. Por essa razão, estudos mais recentes passaram a buscar por alternativas ao IMC, que pudessem apontar com mais precisão o índice de gordura corporal.
Essa mudança foi necessária uma vez que o IMC não era capaz de distinguir gordura de massa magra, por exemplo. Outro ponto observado era que o IMC não considerava informações como sexo, idade e traços étnicos de cada paciente.
O índice de Massa Gorda Relativa (RFM), divulgado em 2018 na revista científica Nature, foi o método que apresentou melhores resultados, driblando o que antes eram identificados como “falsos magros” e “falsos gordos”, quando o IMC apontava saúde ou sobrepeso de maneira imprecisa.
O acompanhamento regular do crescimento infantil com o pediatra é essencial, especialmente na atenção primária. Profissionais da saúde devem usar o RFM em conjunto com outras avaliações, como histórico familiar, hábitos alimentares, rotina de atividade física e exames laboratoriais. Essas informação ajudam a determinar o grau de risco e a necessidade de intervenção em cada caso.
O diagnóstico precoce de obesidade infantil é fundamental para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas e promover uma intervenção multidisciplinar eficaz, que envolva pediatras, endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos, entre outros especialistas, quando necessário.
Principais causas da obesidade infantil
As causas da obesidade infantil podem envolver fatores biológicos, comportamentais e sociais. Em alguns casos, o ganho de peso excessivo começa ainda durante a gestação. Especialmente quando há quadros de obesidade materna ou diabetes gestacional, que podem influenciar o metabolismo e o desenvolvimento do bebê.
De acordo com o Ministério da Saúde, a interrupção repentina ou precoce da amamentação materna e a introdução alimentar inadequada, com alimentos ultraprocessados, também podem contribuir para o quadro de obesidade infantil. Além disso, dados reforçam que o aumento de casos de obesidade infantil pode estar associado a mudanças no estilo de vida das famílias, considerando também uma rotina cada vez mais sedentária.
Compreender essas causas é essencial para que o profissional de saúde possa atuar na prevenção e no tratamento de forma integral. Portanto, considerando não apenas os hábitos alimentares, mas também todo o contexto familiar e social que influencia o comportamento alimentar da criança.
Consequências da obesidade infantil para a saúde
As consequências da obesidade infantil vão muito além do excesso de peso. Quando não identificada e tratada precocemente, essa condição pode causar alterações metabólicas significativas e aumentar o risco do desenvolvimento de doenças crônicas na infância ou adolescência. Entre as principais, podemos mencionar:
Diabetes tipo 2
A diabetes tipo 2 ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida, levando ao acúmulo de glicose no sangue. No Brasil, esse é o tipo mais comum de diabetes, afetando cerca de 90% das pessoas que vivem com a doença.
Hipertensão arterial
O excesso de gordura corporal, especialmente a gordura visceral, é um importante fator de risco para o desenvolvimento da hipertensão, pois interfere na regulação da pressão arterial por meio de múltiplos mecanismos fisiológicos.
Colesterol alto
O colesterol alto é uma condição caracterizada pelo aumento dos níveis de colesterol no sangue. Quando não controlado, pode levar ao acúmulo de gordura nas artérias e elevar o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
Tratamento e prevenção
O tratamento da obesidade envolve uma abordagem interdisciplinar, que requer mudanças nos hábitos alimentares, prática regular de atividade física e o acompanhamento médico contínuo. Dessa forma, um dos principais focos do tratamento é a reeducação alimentar, priorizando alimentos naturais e reduzindo o consumo de ultraprocessados. Além disso, a prática de exercícios físicos contribui para a melhora do metabolismo, da composição corporal e da saúde cardiovascular.
O Ministério da Saúde reforça a importância de uma alimentação equilibrada e da prática regular de atividades físicas como pilares fundamentais para evitar o excesso de peso. Nesse contexto, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos pode auxiliar famílias, oferecendo dicas práticas sobre como introduzir e manter uma alimentação saudável nos primeiros anos de vida. É claro, não descartando o acompanhamento de um nutricionista ou pediatra.
Em casos mais graves, o médico pode indicar o uso de medicamentos para controle de peso ou, em situações específicas e cuidadosamente avaliadas, procedimentos cirúrgicos. No entanto, o foco principal deve ser sempre a adoção de um estilo de vida saudável e sustentável.
As informações utilizadas para a construção deste artigo foram obtidas a partir do Material “Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil” e outros materiais do Ministério da Saúde, atualizadas até a data da publicação e estão sujeitas a alterações.