O mais recente estudo da USP e da Associação Médica Brasileira estima que o número de médicos pode ultrapassar 1,3 milhão de médicos, devido à crescente abertura de cursos de medicina.
Você tem ideia de quantos médicos o Brasil possui hoje? Se imaginou mais de 500 mil, acertou. O número exato, segundo a atualização do estudo “Demografia Médica no Brasil 2023” realizado pela Faculdade de Medicina da USP e a Associação Médica Brasileira (AMB), com os mais recentes dados do censo do IBGE, é de 545.767 médicos.
Isso significa que 2,69 profissionais a cada 1.000 habitantes têm essa profissão.
O número de médicos mais que dobrou!
Analisando os oito censos mais recentes do IBGE, a população brasileira cresceu 291% entre 1950 e 2022, enquanto a quantidade de médicos aumentou 2.301% no mesmo período.
De 2000 a 2022, saímos de 1,41 médicos a cada 1.000 habitantes para 2,69 – mais que o dobro. Falando em porcentagem, de 2010 a 2022 a população médica cresceu 70,3% – ou seja, um aumento de 225.290 profissionais. Este crescimento está fortemente associado à expansão dos cursos e vagas de graduação em medicina.
Como o Brasil está em relação ao mundo?
Comparações internacionais precisam ser feitas com cautela, devido às diferentes metodologias de contagem, realidades e definições de médicos em cada país.
Se formos comparar a densidade médica no Brasil (2,69 médicos por 1.000 habitantes) a outros países, como Estados Unidos, Japão, Canadá e Chile, estamos equivalentes. Já os países europeus, como Reino Unido, França, Alemanha e Espanha, possuem uma densidade maior.
Também é importante lembrar que, no cenário brasileiro, a comparação da taxa nacional com a de outras nações é bem limitada, por conta da distribuição desigual de médicos entre as regiões e algumas características do sistema de saúde, que acabam gerando maior concentração de profissionais no setor privado do que no SUS.
Como é a divisão entre as regiões brasileiras?
Pode-se dizer que a distribuição de médicos no Brasil é relativamente desigual. Veja os números por região:
Abaixo da média nacional:
- Nordeste – 2,09 médicos por 1.000 habitantes
- Norte – 1,65 médicos por 1.000 habitantes
Acima da média nacional:
- Sudeste – 3,62 médicos por 1.000 habitantes
- Centro-Oeste – 3,28 médicos por 1.000 habitantes
- Sul – 3,12 médicos por 1.000 habitantes
Também vale trazer alguns destaques:
- O Maranhão apresenta a menor densidade (1,17 médicos por 1.000 habitantes);
- Os três estados com maior densidade são Distrito Federal (6 por 1.000 habitantes), Rio de Janeiro (4,19) e São Paulo (3,57) – que também o estado mais populoso;
- Há 19 estados abaixo da média nacional de médicos (nenhum deles das regiões Sudeste e Sul);
- Há 7 estados com menos de 2 médicos por 1.000 habitantes;
- Roraima é o estado com a menor quantidade de habitantes (636 mil) e o sexto com menor densidade médica.
E quanto às capitais e os municípios?
A maior concentração de médicos se encontra nas capitais dos estados.
Vitória, por exemplo, tem 18,14 médicos por 1.000 habitantes, seguida por Porto Alegre e Florianópolis, todas com mais de oito médicos por 1.000 habitantes.
Em contraste, capitais como Macapá, Boa Vista e Manaus têm menos de três médicos por 1.000 habitantes.
Quanto aos municípios, os números também são impressionantes:
- 69,3% dos municípios do país têm até 20 mil habitantes. Esse valor reunido culmina em 31,9 milhões de habitantes – ou seja, 15,8% da população brasileira;
- Nesses 15,8% informados anteriormente, há apenas 16,7 mil médicos (2,8% do total de profissionais do país);
- 41 cidades possuem mais de 500 mil habitantes (29% da população) – nesses locais, estão 61,5% dos médicos
- Por meio do estudo, a USP e a AMP também constataram que 27% dos médicos trabalhavam na cidade onde moravam, mas também se deslocavam em algum dia da semana ou jornada para trabalhar em outra localidade;
- Já 8% deles trabalhavam sempre em um município diferente de onde moravam.
Como os especialistas ficam nesse sentido?
Existem 1,58 médicos especialistas por 1.000 habitantes no Brasil. Em algumas especialidades, como cirurgia e anestesiologia, a disparidade é ainda mais acentuada entre diferentes estados. Veja os números:
- Anestesiologia: no Maranhão (4,40 por 100 mil) é 5 vezes menor que no Rio de Janeiro (22,54 por 100 mil)
- Cirurgia: no Pará (10,46 por 100 mil) é 6 vezes menor do que no Distrito Federal (60,84 por 100 mil)
Outra média importante é a de Medicina de Família e Comunidade – uma das especializações dos serviços de Atenção Primária. Ela consiste em apenas 5,54 para 100 mil habitantes, tendo 15 estados abaixo desse número.
A grande disparidade entre médicos formados e vagas de residência
O aumento significativo no número de cursos de medicina nos últimos anos tem impactado a demografia médica. Em 2021, havia 224.148 alunos matriculados em 365 escolas médicas. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais concentram 44% desses estudantes.
Contudo, a maioria das novas vagas está em capitais, o que pode levar ao excesso de médicos nos grandes centros, como já visto anteriormente.
E um dos maiores desafios após a graduação é a obtenção de uma vaga na residência médica, que vem na busca pela especialização. A concorrência por essas vagas é intensa, principalmente nas especialidades mais desejadas.
Por este motivo, a relação candidato/vaga em seus programas pode ser extremamente alta, fazendo com que muitos médicos recém-formados enfrentem dificuldades em conseguir se especializar por este caminho.
Para se ter uma ideia, em 2021, considerando 1.000 habitantes, a oferta de graduação era de 1,05 estudantes, contra 0,21 vagas para residência.
Relacionado às vagas, os números são cada vez mais desafiadores. Apesar do aumento de 57% na oferta delas, de 2015 a 2023 (de 29.696 para 46.610), considerando médicos cursando programas de R1 a R6, a disponibilidade para o primeiro ano de residência (R1) não tem sido suficiente para acompanhar o aumento dos médicos graduados.
Ademais, as localizações continuam as mesmas – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul têm, juntos, mais de 60% das vagas.
Mas quais as alternativas à residência?
Diante dessa alta concorrência, várias alternativas têm sido consideradas pelos médicos recém-formados.
Alguns procuram oportunidades de trabalho em áreas carentes de especialistas, onde a demanda por médicos pode ser alta e as condições de trabalho favoráveis.
Já outros optam por cursos de pós-graduação lato sensu, como especializações e MBAs em áreas específicas da saúde. Essas formações são uma grande vantagem para médicos que querem ampliar seus conhecimentos e aprimorar suas habilidades sem ter que parar de exercer a medicina enquanto fazem isso. Além de proporcionar mais segurança e atualização sobre novos procedimentos e medicamentos, esse caminho também traz um aumento de renda muito relevante no caminho.
Duas das maiores vantagens desse modelo em relação à residência médica são:
1. Não ter que lidar com a alta concorrência e as poucas vagas de residência, que implicam em um caminho árduo e demorado até conseguir iniciar os estudos para se tornar especialista;
2. A facilidade para conciliar os horários de estudo dos médicos com suas agendas diárias, sendo possível escolher entre cursos de pós-graduação EAD, híbridos ou presenciais com horários flexíveis.
Para se tornar um especialista oficialmente, a partir da pós-graduação, basta que o médico passe pela Prova de Título, organizada pelo instituto da especialidade de interesse, e seja aprovado.
O que pode acontecer no futuro?
Projeções indicam que o Brasil pode ter entre 1 e 1,3 milhão de médicos até 2035.
No cenário mais conservador, com o ritmo atual de abertura de cursos, o país terá 1,041 milhão de médicos. Já no mais expansivo, caso todas as novas vagas propostas sejam aprovadas, esse número pode chegar a 1,362 milhão.
Pode-se concluir que a nova demografia médica no Brasil mostra um crescimento relevante, mas também destaca desafios significativos na distribuição de médicos e especialistas pelo território nacional.
Dessa forma, as alternativas para especialização, como a pós-graduação médica, podem ser um ponto crucial para um desenvolvimento equilibrado da saúde no Brasil – bem como para a evolução individual dos médicos que buscam o sucesso.