Pesquisadores da São Leopoldo Mandic testam nova molécula com potencial anti-inflamatório para tratar artrites
Com financiamento da Fapesp, Marcelo Henrique Napimoga e Juliana Trindade Napimoga, professores da SLMANDIC, e uma rede de pesquisadores de diversas Instituições, testam a molécula TPPU, que pode auxiliar no tratamento de diferentes tipos de artrite
Pelos próximos cinco anos, a Faculdade São Leopoldo Mandic estará na liderança de um importante projeto que investiga a eficácia de uma molécula experimental chamada TPPU para tratar diferentes tipos de artrite. A pesquisa pretende traçar uma nova estratégia clínica para controlar a dor causada por inflamações nas articulações, de forma menos invasiva e mais eficaz.
O ácido epóxi-eicosatrienóico (EET) é uma molécula anti-inflamatória produzida pelo nosso organismo. Porém, quando estamos com alguma inflamação, uma enzima chamada epóxi-hidrolase degrada o EET, que acaba perdendo a sua função. A nova molécula TPPU inibe a ação dessa enzima, mantém os níveis de EET elevados e preserva sua atividade anti-inflamatória, analgésica e até anticancerígena.
Neste mês de outubro, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) aprovou o projeto “Uso de sistemas de liberação de fármacos para o desenvolvimento e aplicabilidade de agentes anti-inflamatórios com potencial efeito imunomodulador e neuroprotetor”, coordenado pelos professores e pesquisadores da SLMANDIC, o Dr. Marcelo Henrique Napimoga e a Dr.a Juliana Trindade Clemente Napimoga.
Reconhecimento
O projeto foi submetido para a Fapesp na modalidade Temático, na qual se enquadram as pesquisas que se destacam pela ousadia e abrangência das atividades propostas, bem como pela experiência do pesquisador responsável. “Queremos desenvolver produtos com inovação tecnológica e viabilidade clínica real”, enfatiza o Dr. Marcelo, que também é Diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da São Leopoldo Mandic.
“É um reconhecimento muito importante para a São Leopoldo Mandic. Ter um Projeto Temático aprovado na Fapesp, mostra que temos um grupo de pesquisa maduro e consolidado, que consegue fazer projetos científicos ousados e que podem trazer benefícios reais”, comemora.
História do projeto
Há três anos, pesquisadores da Faculdade São Leopoldo Mandic fizeram contato com o professor Bruce Hammock, da Universidade da Califórnia, reconhecido por desenvolver moléculas com potencial anti-inflamatório e analgésico, dentre elas a TPPU.
Naquela época, também com financiamento da Fapesp, o Dr. Marcelo e a Dr.a Juliana, junto com uma equipe de pesquisadores de diversas instituições, em parceria com o Dr. Hammock, testaram a eficácia da TPPU para inibir a perda óssea que ocorre na doença periodontal.
“Induzimos camundongos a desenvolver a doença periodontal e depois fizemos o tratamento deles com a molécula TPPU, e constatamos que ela inibia a perda óssea”, explica Marcelo. E, já que a doença periodontal, em termos imunológicos, assemelha-se à artrite reumatoide, os pesquisadores agora querem descobrir se essa molécula também pode inibir a artrite.
Fases da pesquisa
O novo projeto de pesquisa está dividido em três fases. “A primeira etapa está focada em avaliar se essa molécula TPPU tem uma atividade imunomoduladora, ou seja, se ela diminui a resposta imunológica em modelos animais de artrite reumatoide, inibindo a doença”, destaca o pesquisador. Para isso, os testes continuarão sendo feitos em animais, nos quais a artrite será induzida e tratada. Ele conta que serão feitos três modelos de artrite reumatoide diferentes em animais: um de artrite gotosa, outro de artrite reumatoide e um de artrite na articulação temporomandibular, mais voltado para a Odontologia.
O próximo passo da pesquisa é tentar melhorar a molécula TPPU, colocando-a dentro de nanocápsulas – cápsulas de proporção nanométrica usadas como invólucro para quantidades muito pequenas de medicamentos.
Espera-se potencializar as propriedades terapêuticas da TPPU, diminuindo a dose administrada e aumentando o seu tempo de liberação nos tecidos que sofrem com a inflamação. “Com isso, pretendemos manter ou melhorar o efeito dessa molécula”, avalia o Dr. Marcelo.
A terceira fase, sob a supervisão da Dr.a Juliana, deve acontecer com a colaboração do Dr. Harvinder S. Gill, da Universidade do Texas, que criou um patch ou adesivo com microagulhas que podem ser revestidas com medicamento, e que é colocado sobre a pele. As microagulhas rompem apenas a primeira barreira da pele para permitir a entrada do fármaco no organismo, de forma indolor, mais segura e efetiva.
A Dr.a Juliana e o Dr. Gill desenvolveram as microagulhas revestidas com o tramadol, um analgésico que, em altas doses e tratamento contínuo, causa diversos efeitos colaterais indesejáveis. Os pesquisadores demonstraram, por meio de testes em animais, que quando o tramadol é aplicado diretamente nos tecidos das articulações com as microagulhas, apresenta um potente efeito anti-inflamatório sem efeitos sistêmicos indesejáveis.
Nesta fase, os pesquisadores realizarão o teste clínico em humanos para avaliar a efetividade das microagulhas revestidas com tramadol para o tratamento de processos inflamatórios das articulações. “O tramadol será usado para testar a administração de fármacos por meio de microagulhas em pacientes, porque a TPPU ainda não pode ser comercializada e nem testada em humanos”, explica a Dr.a Juliana.
Os patchs com microagulhas permitem a administração de doses baixas de medicamento e com ação apenas local. É um método menos invasivo, e que reduz a chance de acontecerem efeitos colaterais.
“Queremos verificar se esse sistema de liberação local de medicamento com microagulha funciona. Queremos buscar métodos mais efetivos e menos invasivos para a aplicação de fármacos que modulam a dor inflamatória”, justifica a Dr.a Juliana. “Se constatarmos que esse sistema funciona, o nosso próximo passo é colocar a TPPU nessa microagulha e ver se ela mantém o mesmo nível de atividade do que quando é administrada por via oral”.
A partir dos resultados obtidos nessa pesquisa, os pesquisadores esperam patentear as microagulhas revestidas com uma formulação nanoestruturada de TPPU.
Também participam desse projeto a Dr.a Cristina Gomes Macedo, da Faculdade São Leopoldo Mandic, a Dr.a Daniele Ribeiro Araújo, da Universidade Federal do ABC, o Dr. Leonardo Fernandes Fraceto, da UNESP – Sorocaba, a Dr.a Nathalie F. S. Melo, da Faculdade São Leopoldo Mandic, de Araras, e o Dr. Waldiceu A. Verri Junior, da Universidade Estadual de Londrina.
São Leopoldo Mandic consolida parceria científica com Universidade da Califórnia (UCDavis)
Os professores da Faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas, Marcelo Henrique Napimoga e Juliana Trindade Clemente Napimoga, estiveram entre os dias 16 e 23 de janeiro, na Universidade da Califórnia (UCDavis), para visitar o Laboratório coordenado pelo renomado pesquisador, Dr. Bruce Hammock, e apresentar os resultados referentes à parceria científica estabelecida entre os pesquisadores das duas instituições e apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
O projeto de pesquisa em andamento, intitulado “Avaliação do Efeito Imunofarmacológico do uso de Inibidor de Epoxi hidrolase (TPPU) no Controle da Perda Óssea” teve como objetivo investigar se a molécula desenvolvida e patenteada pelo Dr. Hammock (TPPU) pode inibir a reabsorção óssea em um modelo de periodontite (doença gengival grave que danifica as gengivas e pode provocar perda óssea e consequentemente a perda dos dentes), bem como, para elucidar os mecanismos moleculares envolvidos.
Parte dos dados deste projeto foram publicados na prestigiada revista científica Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, com o título “Soluble Epoxide Hydrolase Pharmacological Inhibition Decreases Alveolar Bone Loss by Modulating Host Inflammatory Response, RANK-Related Signaling, Endoplasmic Reticulum Stress, and Apoptosis”. Trindade-da-Silva CA, Bettaieb A, Napimoga MH, Lee KSS, Inceoglu B, Ueira-Vieira C, Bruun D, Goswami SK, Haj FG, Hammock BD.
Além da apresentação dos dados referentes à pesquisa, Marcelo e Juliana Napimoga estreitaram a parceria para um novo projeto em conjunto, que terá enfoque no estudo da mesma molécula já testada, porém, visando o controle da artrite reumatoide. Este projeto, segundo Marcelo Napimoga, já foi enviado à FAPESP para obter auxílio financeiro.
“São novas parcerias e novos projetos surgindo entre a São Leopoldo Mandic e outras instituições internacionais, comprovando o interesse e incentivo à pesquisa científica que a Faculdade tem como parte essencial de sua missão”, diz Marcelo.